A ideia é discorrer sobre temas variados relacionados à história. É importante esclarecer que o blog não é feito em formato acadêmico, embora os textos sejam embasados em historiadores sérios e de renome (tentarei, na medida do possível, citar referências). A proposta é abordar os assuntos sugeridos de forma sucinta, simples e direta, sem a rigidez dos trabalhos universitários, o que não diminui a seriedade do que é produzido.
quarta-feira, 12 de agosto de 2015
Heróis Esquecidos do Brasil: Plácido de Castro
José Plácido de Castro (1873 – 1908) nasceu no Rio Grande do Sul (São Gabriel). Sua família possuía inúmeros militares – alguns antepassados de Plácido lutaram nas guerras imperiais (Guerra da Cisplatina e Guerra do Paraguai) e também participaram de missões jesuíticas no sul do país. Plácido ingressou na carreira militar aos 16 anos. Nessa época, deflagrou-se a Revolução Federalista (1893 – 1895), e Plácido lutou ao lado dos “maragatos”, que foram derrotados pelas forças de Floriano Peixoto. Decepcionado com o rumo dos acontecimentos, Plácido abandonou a carreira militar e mudou-se para o Rio de Janeiro. Em 1899 foi para o Acre, que era província boliviana à época. E Plácido imortalizaria seu nome naquela distante terra amazônica.
No início do séc. XX, a região amazônica vivia o apogeu da extração de látex para a fabricação de borracha, matéria-prima de vital importância para a indústria automobilística que ganhava força nos países industrializados, especialmente os EUA. Esse período foi de tanta pujança que cidades como Manaus e Belém cresceram formidavelmente; a construção de inúmeros teatros, museus e mansões contrastava com a inóspita floresta em derredor: era a nossa exótica Belle Epóque tropical. Tanta prosperidade econômica atraiu uma enorme população de miseráveis para aquela região; o grosso dos migrantes vinha do Nordeste. Fugindo da seca, essa gente desesperada buscava um meio para trabalhar e ganhar a vida. O território acreano recebeu inúmeras famílias brasileiras, o que criou um enorme problema para o governo boliviano. As condições de vida eram precárias para os pobres migrantes, que já chegavam repletos de dívidas e dificilmente conseguiriam pagá-las, o que proporcionava uma exploração quase escrava do trabalho daqueles infelizes.
Tropas bolivianas foram recebidas à bala quando foram ocupar a região. A Bolívia já havia perdido grandes porções de terra para o Chile, o Peru e a Argentina, e perder o Acre estava fora de questão. Nesse ínterim, até uma curiosa “Expedição dos Poetas” aconteceu, mas foi esmagada pelo exército boliviano, que aumentava os efetivos na região. Os confrontos com os colonos brasileiros também cresceram. Nesse meio tempo, Plácido de Castro envolveu-se no conflito e voltou à ativa, reutilizando a já empoeirada farda.
Plácido de Castro conseguiu organizar um exército de seringueiros, impondo-lhes disciplina e rígido treinamento. O governo amazonense dava apoio por “debaixo dos panos”, fornecendo armas e suprimentos aos rebeldes. Plácido até mesmo introduziu técnicas militares muito avançadas para a época: seu exército adotou uma farda azul escura, que fornecia muito mais proteção nas matas fechadas do que as cores quentes utilizadas anteriormente – o número de baixas foi reduzido drasticamente. O enfrentamento com as tropas bolivianas era cada vez mais intenso, e Castro conquistava inúmeras vitórias. O número final de tropas bolivianas envolvidas na região chegou a 100 mil homens; os colonos organizados por Plácido chegaram a um total de 30 mil homens. Durante curto período, Plácido foi o governador de um Acre independente que, em 1903, seria anexado ao Brasil após negociações com a Bolívia; o risco de uma guerra entre os dois países era real, e o célebre Tratado de Petrópolis (assinado pelo também célebre Barão de Rio Branco) evitou esse conflito.
O final de Plácido de Castro foi trágico. Em 1908, foi vítima de um atentado emboscado por rivais políticos. Quando estava à beira da morte, Plácido de Castro pediu ao irmão para ser enterrado no Rio Grande do Sul – o Acre havia pagado-lhe muito mal pelos serviços prestados, queixava-se. "Logo que puderes, retira daqui os meus ossos. Direi como aquele general africano: 'Esta terra que tão mal pagou a liberdade que lhe dei, é indigna de possuí-los.' Ah, meus amigos, estão manchadas de lodo e de sangue as páginas da história do Acre...tanta ocasião gloriosa para eu morrer...". O pedido de Plácido foi atendido.
Plácido de Castro figura no panteão de heróis da pátria brasileira e dá nome a uma cidade do Acre, bem como a um batalhão do Exército. Foi, sem sombra de dúvidas, um homem corajoso, idealista e brilhante, derrotando um exército maior e (provavelmente) mais bem treinado, com melhores recursos (tratava-se de um exército profissional, ao contrário dos esfarrapados seringueiros comandados por Plácido). É curioso como pouco é sabido sobre personalidades como ele. O Brasil carece de memória. Em tempos de tão pouca iniciativa e da exaltação de falsos heróis, lembrar-se de Plácido de Castro é vital. O Acre existe e deve muito a José Plácido de Castro, um gaúcho muito brasileiro e muito acreano.
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